CARIDADE SANTANENSE, IRRADIANDO AMOR E FRATERNIDADE DESDE 1873
A ocupação do território onde hoje é o Município de Santana do Livramento começou em 1811 com o acampamento militar de Dom Diogo de Souza em preparação para adentrar o território da Província Cisplatina. Em 1814 começaram a ser doadas sesmarias e o território passou a ter ocupantes fixos. A fundação da vila de Santana do Livramento ocorreu em 1823 e dois anos após o Exército Imperial esteve acampado por cerca de um ano nos arredores da pequena povoação. Neste período alguns nobres e Militares sabidamente Maçons permaneceram por algum tempo na região. Os registros quanto a possíveis reuniões são muito difíceis de encontrar, mas é perfeitamente possível e até lógico que elas tenham ocorrido, ainda que de forma informal.
Durante a Revolução Farroupilha, movimento com forte influência dos ideais iluministas, principalmente franceses, e que muitos historiadores afirmam ter também participação da Maçonaria, os chefes farrapos transitaram pela região de Santana do Livramento. Há inclusive notícia de que um dos maiores líderes do movimento, David Canabarro, teria sido iniciado em uma reunião na localidade do Itaquatiá, no interior do município.
Na fase inicial da Guerra da Tríplice Aliança, em 1865, mais uma vez notáveis chefes militares estiveram reunidos na fronteira, inclusive o Maçom Duque de Caxias. O Imperador D. Pedro II, seu genro Conde D’Eu e comitiva de nobres também estiveram em visita à crescente povoação de Santana do Livramento.
Quando da fundação da Loja Caridade Santanense, em 30 de abril de 1873, a cidade de Santana do Livramento possuía aproximadamente 10300 habitantes, muitos deles na zona rural, dedicando-se à criação de gado.
Foi neste ambiente, provavelmente numa fria noite de outono do pampa gaúcho, com as poucas ruas da pequena e jovem cidade do século XIX praticamente desertas, com as chaminés expelindo densa fumaça proveniente das lareiras utilizadas para aquecer os ambientes internos dos casarões de arquitetura ibérica, com os lampiões e lamparinas produzindo pequenos focos de luz que escapava pelas frestas do rancherio, com a umidade e a pressão atmosférica mantendo a fumaça próxima ao solo, produzindo um nevoeiro e transformando o ambiente numa atmosfera tipicamente londrina, com o vento soprando suavemente, trazendo um ar úmido e frio, como se quisesse anunciar o rigoroso inverno que viria e com a Lua teimando em aparecer, entremeada pelas nuvens carregadas, completando o cenário de mistério, que homens vestidos de preto e protegidos por longos ponchos deslocaram-se em direção ao centro do povoado provocando o espanto da cachorrada que latia enfurecida. Estes homens estavam indo fundar a Loja Caridade Santanense.
Nesta realidade, onde os deslocamentos entre cidades eram realizados a cavalo, a dificuldade para transportar rituais e paramentos era enorme, as comunicações entre Lojas e sua Potência demoravam meses e as reuniões eram realizadas à luz de velas e lampiões que se desenvolveu a Maçonaria em Livramento nas últimas décadas do Século XIX.
Ao longo da existência da Loja Caridade Santanense Nº2 muitos momentos conturbados, cercados por guerras e revoluções, foram vivenciados. Com muito trabalho e dedicação de seus obreiros as dificuldades foram superadas e os frutos foram aparecendo. Lojas como a Saldanha Marinho e Fronteira da Paz, ambas de Santana do Livramento, a Unión y Fraternidad, de Rivera-ROU, e a Artigas, do Oriente de Quaraí, tiveram suas origens no quadro de obreiros da Caridade Santanense.
Os anos passaram, inúmeras inovações surgiram: O advento do telégrafo possibilitou uma certa agilidade às comunicações com o envio de pequenas mensagens; A chegada da energia elétrica trouxe mais conforto; A construção de ferrovias e as viagens de trem possibilitaram o transporte de materiais importados e documentos; O surgimento do automóvel diminuiu enormemente os tempos de deslocamento; O computador e a internet inauguraram uma nova era de tecnologia onde a comunicação é instantânea e o envio de documentos é realizado num deslizar de dedos no smartphone.
Nesta realidade de avanço tecnológico, desafiando a todos para se manterem atualizados e familiarizados com as novas tecnologias, mais do que isso, acelerando um processo de adaptação da Maçonaria à nova realidade social, sempre mantendo as tradições maçônicas de iniciação e transmissão dos segredos pois a Ordem é baseada em Land Marks imutáveis.
A história da humanidade nos relata vários exemplos de espécies e instituições que foram extintas por não se adaptarem às transformações do ambiente. Provavelmente esteja aí o caminho para que a Maçonaria continue sua consagrada existência. Adaptar-se aos novos tempos, assim como vem sendo realizado desde aquela reunião na noite de 1873, sem perder jamais sua essência e mantendo suas tradições, usos e costumes.